CHUMBO

Sequelas: epilepsia, atraso no desenvolvimento mental, neuropatia óptica e até cegueira
Em crianças que foram intoxicadas com chumbo pode ainda verificar-se
· Perda de 2-4 pontos na escala de QI por cada μg/dL (entre 5-35 μg/dL);
· Alterações cognitivas para valores superiores a 5 μg/dL.
Durante a gravidez, a exposição ao chumbo pode afetar o desenvolvimento mental do feto (as 28 semanas são o período crítico).

Quer a exposição crónica quer a aguda a chumbo podem causar danos cardiovasculares que incluem hipertensão e doença cardiovascular (como doença coronária isquémica, acidente cerebrovascular, entre outros).
Vários estudos confirmaram a correlação entre a concentração de chumbo no sangue em níveis relativamente baixos e a pressão sanguínea.



Uma intoxicação por chumbo pode resultar em nefropatia aguda ou crónica, dependendo da dose e tempo de exposição.
Nefropatia aguda: disfunção tubular proximal que pode ser revertida por tratamento com quelantes.
Nefropatia crónica: fibrose intersticial, com perda progressiva de nefrónios, azotémia e falha renal.
O chumbo pode afetar o osso por interferir nos mecanismos metabólicos e na homeostasia do osso através de alterações nos níveis de hormonas importantes no metabolismo do cálcio como a calcitonina e a vitamina D.
O chumbo substitui o cálcio no osso e afeta a atividade dos osteoclastos, osteoblastos e condrócitos. Assim, intoxicações por chumbo podem ser associadas a osteoporose, dificuldades de reparação de fraturas e alterações na formação de novo tecido ósseo
Em vários estudos, verificou-se uma maior predisposição para cárie dentária associada à deposição de chumbo nos dentes, inibição da mineralização e alteração do metabolismo das células da polpa dentária.
(Klaassen, Curtis D., 2008)
Efeitos neurotóxicos
Na criança
Encefalopatia em crianças expostas a altas concentrações de chumbo (superiores a 70 μg/dL).
Inicialmente os sintomas passam por letargia, perda de apetite, vómitos, irritabilidade podendo progredir para ataxia, perda de consciência, coma e morte.
Verifica-se a ocorrência de edema cerebral por passagem de fluidos dos capilares cerebrais para o cérebro (resultado do aumento da pressão intracraniana), perda de células neuronais e aumento das células gliais.
No adulto
Neuropatia periférica.
Típica em adultos com intoxicação por chumbo resultante de exposição ocupacional (superiores a 40 μg/dL).
Observa-se redução da atividade motora devido a alterações na mielinização com disfunção dos nervos motores. Assim, a condução de impulsos nervosos é altamente prejudicada, causando fraqueza muscular, fadiga e falta de coordenação muscular.
Podem ainda observar-se alterações comportamentais em adultos expostos a elevadas quantidades de chumbo.
(Flora et al, 2012; Klaassen, Curtis D., 2008)
Efeitos hematológicos
A ferroquelatase, por sua vez, catalisa a inserção de ferro no anel da protoporfirina para formação do grupo heme. A sua inibição terá como consequência a acumulação de protoporfirina IX que assume o lugar do grupo heme na molécula de hemoglobina. Quando os eritrócitos contendo protoporfirina IX entram na circulação o zinco é quelatado no lugar do ferro – Zn-protoporfirina (estes eritrócitos podem ser utilizados para diagnosticar a intoxicação por chumbo pois são intensamente fluorescentes).
Interrupção da biossítese de Heme pelo chumbo
Casarett and Doull´s Toxicology – The Basic Science of Poisons, 7ª Edição, McGraw-Hill, 2008
A anemia, quando ocorre, é do tipo microcítica e hipocrómica (semelhante à anemia por deficiência de ferro).
O chumbo afeta ainda a actividade da heme-oxigenase, aumentando-a, o que aumenta a formação de bilirrubina.
(Klaassen, Curtis D., 2008)
Efeitos cardiovasculares
A hipertensão induzida por chumbo parece ser multifactorial e deverá envolver:
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A inativação de óxido nítrico e cGMP, possivelmente por espécies reativas de oxigénio resultantes da intoxicação por chumbo;
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Alterações no sistema renina-angiotensina-aldosterona e aumento da atividade simpática;
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Alterações nas funções celulares do músculo liso vascular que necessitam de cálcio incluindo a contractilidade (por diminuição da actividade da bomba Na+/K+ ATPase e estimulação do trocador Na+/Ca+);
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Possível aumento da endotelina e tromboxano.
(Flora et al, 2012; Klaassen, Curtis D., 2008)
Efeitos renais
Como consequênica da nefropatia resultante da intoxicação por chumbo pode desenvolver-se hipertensão.
É possível observar-se a presença de corpos de inclusão intracelulares que acumulam chumbo.
No rim, o chumbo vai ainda interferir com a síntese de enzimas que contêm o grupo heme.
(Flora et al, 2012; Klaassen, Curtis D., 2008)
Efeitos nos ossos
Outros efeitos tóxicos
Gastrointestinais: associados a intoxicação severa. Incluem náuseas, vómitos, prisão de ventre e cólicas.
Efeitos gametogénicos: toxicidade para os gâmetas no homem e na mulher, diminuição das funções endócrinas e disfunção do eixo hipotálamo-pituitária-gónadas.
(Flora et al, 2012; Klaassen, Curtis D., 2008)
Carcinogenicidade
O chumbo está classificado como provável carcinogéneo em humanos.
Em roedores a sua carcinogenecidade está confirmada.
(Flora et al, 2012; Klaassen, Curtis D., 2008)
Aumento da excreção urinária de:porfirina, coproporfirina, ácido aminolevulínico (ALA) e Zn-protoporfirina.
Os efeitos do chumbo a nível hematológico verificam-se, especialmente, na desidratase do ácido delta-aminolevulínico (ALAD) e na ferroquelatase.
A ALAD cataliza a condensação de duas unidades de ALA para formar porfobilinogénio (PBG). Da inibição desta enzima pelo chumbo, vai resultar a acumulação de ALA (com consequente stress oxidativo, hemólise) - ver figura abaixo.
